Durante os séculos de escravidão, o Brasil viveu fatos de corrupção provocados por políticos que escandalizaram a população. Mesmo assim, chocada com o roubo e as propinas, a população não se chocava com a escravidão, uma corrupção aceita e tolerada.
Havia o choque e descontentamento com o roubo de dinheiro público para enriquecimento pessoal de políticos, mas não havia constrangimento social com o roubo da vida de negros tirados da África, desapropriados de si próprios, inclusive do direito ao seu corpo e seu tempo, para enriquecimento de empresas e o serviço a famílias abastadas.
Algo parecido se passa hoje:
Ao tomar conhecimento do roubo sistemático de bilhões de reais do patrimônio nacional na Petrobras, o povo brasileiro fica escandalizado, revoltado com os políticos que o praticaram vindos especialmente do PT que se apresentava como o grande defensor da honestidade nos negócios públicos. Mas não se escandaliza do roubo de dezenas de milhões de crianças às quais se nega educação de qualidade. Crianças desapropriadas do que elas têm de maior patrimônio de suas vidas, o cérebro, capaz de gerar todos os benefícios que precisa para o mundo moderno.
Como os brasileiros até o final do século XIX não se escandalizavam com a negação de liberdade para milhões de africanos e seus descendentes, hoje não nos escandalizamos com a escravidão do século XXI, a negação de educação de qualidade para milhões de brasileiros: em geral descendentes daqueles escravos.
E aparentemente esta é uma escravidão ainda mais difícil de abolir. Porque a elite na escravidão se protegia pela cor branca, que os negros não conseguiriam adquirir, mas um cérebro preparado qualquer pobre consegue se lhe for dada educação.
Por isso não lhe é dada, nem ao menos é percebida que ela é negada, ao não ser oferecida.
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