1.612.186 órfãos


Tão logo divulgado e finalizado o resultado das eleições e a principal curiosidade sempre é o destino dos concorrentes derrotados, e consequentemente a maioria (se não todos) de seus eleitores.  Em eleição com larga e clara preferência e distância, como a presidenciável, estas alianças políticas podem se dar bem antes mesmo do resultado, o que obviamente nunca vem a público antes de 100% das urnas apuradas. 

Questão de ética? Creio que não, questão de ordem. Um partido político nada mais é que um grupo de pessoas com um mesmo ideal, que buscam chegar a um poder que seja possível executá-lo da forma esperada, planejada. Uma fria e real análise social precisa ser feita quando se há uma distância, grande como em uma eleição presidenciável, afinal de contas se o meu ideal não é o maior, se meu modelo de pensamento e luta não foi escolhido e não governará, que este seja então parte do maior processo, compondo pelo menos, e não ficando absolutamente fora da discussão. Mas não é assim que pensam algumas lideranças partidárias.

A candidata do PSOL à Presidência da República, Luciana Genro, três dias após o resultado da eleições que a deixaram com a 4º colocação, vem simplesmente declarar que "o partido não vai apoiar nenhum dos dois candidatos que foram para o segundo turno do pleito." e completa "Assim, recomendamos que os eleitores do PSOL não votem em Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais."

Luciana se esquece que na urna não há a tecla 'não confirma' para não votar em alguém. É necessário escolher, tomar lado, opinar, decidir. Omissão, esta é a palavra que define a líder do Partido que conquistou tantos eleitores e por ele mesmo se define fortalecido e maior depois deste processo. A mulher que tinha minha particular estima pelo discurso e pelas defesas, se mostra uma péssima líder, abrindo simplesmente mão e lavando-as como se não precisasse instruir os mais de um milhão e meio de confiantes em seu projeto.

Que as plataformas expostas não são como a dela, isto é claro! Dos 11 candidatos sobraram 2, e a partir daí, deixar seus liderados decidirem sem orientação e nem mesmo declarar sequer a própria posição é corroborar com a anulação dos votos, deixando a escolha para a minoria que simplesmente definirá o que os abstinentes terão que engolir nos próximos quatro anos, apenas falando e falando, reclamando e reclamando.

Esta inércia é indignante! Se quer entrar na luta, lute até o fim, mesmo que não seja maioria, mesmo que componha sem interesses e negociatas. Cadeiras pra lá, privilégios pra cá e tão logo surgiria um apoio, uma posição de segundo turno. Esta articulação que data da antiguidade da própria política, justifica-se por algo de afinidade que surge para a tão suscetível cessão de direito, apoio e exposição. Se claro, estivesse garantido uma cadeira de um ministério neste nível, tão logo estufaria o peito ao declarar o (mesmo que parcial) apoio, que originalmente era pra ter sido feito por ideologia e não por conchavos.

Acerte ou erre, ganhe ou perca, mas nunca se exclua do processo. Prefiro a pessoa que tem posição extremamente contrária à minha, do que a que se abstêm de ter posição. Esta sim, por fim, não representa ninguém e somente ocupa a fácil parte de culpar os mais fracos e apedrejar os fortes que a rejeitaram.

Luciana Genro que em debates  e discussões públicas sempre criticou as alianças que os partidos concorrentes, cai na mesma origem, lava as mãos deixando 1.612.186 eleitores órfãos. Estes sim lutavam, e lutam, simplesmente pela causa.

Brasil, isto é o empobrecimento de seu processo democrático. 

Brasil, isto é um filho teu fugindo à luta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Luciana não vai apoiar nenhum partido, pq ela não se vende, pois o seu posicionamento politico não é moeda de troca.
No entanto, deixou bem claro para seu eleitores votarem "nulo, branco, ou em Dilma".

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