Nosso país tem um poder judiciário contaminado, um sistema prisional falido e estão jogando a culpa em quem não a tem.
Depois de rebeliões e suas terríveis consequências neste início de ano, os maiores comentários e polêmicas da internet são sobre as indenizações: Se devem ou não ser feitas e sobre quais famílias devem receber, as dos detentos ou das vítimas de seus crimes?
Esses comentários, esses questionamentos, hoje são desnecessários. O correto seria (eu digo seria) dizermos que não existem famílias que precisem de indenizações, já que não há crime hediondo, bárbaro, leve, ou qualquer que seja. Utopia.
O crime está aí. Mas, em um país com o poder judiciário contaminado e um sistema prisional falido, desde seu início ao final, discutirmos o fim do processo errado é como fazer um bolo com ingredientes podres e fora do prazo de validade. Bolo que depois de pronto, ao provar e constatar o sabor ruim, vamos querer discutir: Qual parte da receita foi a errada?
O erro está no processo desde o início, ingredientes ruins.
O Estado não manda mais nos presídios, isto já é um fato. Um poder paralelo, que é mais respeitado e obedecido que o de segurança, faz suas próprias leis e funciona melhor que a política deste país (ou poderíamos dizer que funciona junto com ela?).
Este poder funciona dentro e fora das paredes das penitenciárias e todos os brasileiros sabem das vantagens que alguns têm em manter o ''sistema paralelo'' funcionando.
Coloco aqui um trecho de um post chamado "Brancos ricos e negros pobres que cometem crimes têm o mesmo tratamento?".
Antes de ir pelo título, leia ao menos esta parte que traz uma clara evidência, apenas uma, que está tudo errado no Brasil, e nós estamos querendo discutir apenas o gosto final do bolo.
Atente para o enunciado:
Dirigindo o carro de seu pai, um jovem desobedeceu uma ordem de parada, furou uma blitz da operação Lei Seca, atropelou o agente de trânsito Diogo Nascimento de Souza (que morreu logo depois) e fugiu sem prestar socorro, neste sábado (21), em João Pessoa, na Paraíba.
Considerando que o desfecho da história foi o seguinte:
O jovem teve a prisão temporária decretada na mesma noite, mas conseguiu um habeas corpus do desembargador Joás de Brito Pereira Filho às 3h da madrugada. Segundo o magistrado, não havia "justa causa para justificar o cerceamento do direito de locomoção” do motorista.
Qual desses duas biografias teria maior probabilidade de ser o motorista:
a) José da Silva, jovem e negro, dirigia o Monza branco da família. Seu pai é chapeiro em uma lanchonete no centro de João Pessoa e sua mãe, manicure. Ele, que conseguiu um serviço como atendente na lanchonete em que o pai trabalha, é o primeiro da família a ter terminado o ensino médio.
b) Rodolpho Gonçalves Carlos da Silva, jovem e branco, dirigia o Porsche branco da família. É neto de José Carlos da Silva Júnior, ex-senador e ex-vice governador da Paraíba, herdeiro do Grupo São Braz, um dos maiores produtores de café torrado do país e que sua família também controla empresas de comunicação, entre elas, uma afiliada da Rede Globo.
Qualquer pessoa, rica ou pobre, deve ter todo o direito à ampla defesa. E prisões temporárias ou provisórias devem ser usadas com parcimônia, para evitar que o acusado suma com provas ou quando ele é um risco à sociedade, e não como punição sem julgamento pelo crime cometido. Queremos Justiça, não vingança.
Mas o fato de sermos capazes de responder à pergunta colocada com extrema facilidade e de acertar o resultado na maior parte das vezes em que esse tipo de coisa acontece, mostra que ainda temos que caminhar muito para que todos tenham acesso igualitário à Justiça independente de sua classe social ou etnia...
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